Neste artigo iremos discutir alguns pontos a respeito da transmissão das infecções retrovirais em gatos. Entenda a seguir se gatos infectados com FIV ou FeLV podem viver juntos. Para conhecer mais sobre essas doenças acesse nossos outros artigos voltados ao novo guideline sobre FIV e FeLV:
A convivência entre gatos é uma preocupação comum para tutores que possuem um felino diagnosticado com FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) ou FeLV (Vírus da Leucemia Felina). Por isso o questionamento: Gatos com FIV e FeLV podem conviver com outros gatos? Essa dúvida é tão recorrente entre os tutores, uma vez que esses vírus são conhecidos por comprometerem o sistema imunológico dos gatos infectados, gerando dúvidas sobre o risco de transmissão para outros gatos saudáveis.
Compreender como essas doenças são transmitidas e quais precauções devem ser tomadas é fundamental para garantir o bem-estar de todos os felinos envolvidos.
O FIV é transmitido principalmente por meio de mordidas, o que torna o risco de contágio baixo em gatos que convivem pacificamente, sem brigas. Por outro lado, o FeLV é mais contagioso, sendo transmitido através do contato próximo e prolongado, como compartilhar tigelas de comida e água, ou mesmo pelo uso comum de caixas de areia. Isso significa que a possibilidade de convivência segura entre um gato FeLV-positivo e gatos saudáveis é menor e exige medidas rigorosas de prevenção.
Se você está considerando permitir essa convivência, algumas precauções devem ser tomadas como:
- Testes regulares: É importante conhecer o status retroviral do animal em relação à FIV e FeLV antes de introduzi-los no mesmo ambiente.
- Monitoramento: Observe se há brigas ou interações que possam levar ao compartilhamento de fluidos corporais, especialmente no caso de gatos FIV-positivos.
- Vacinação: Para FeLV, há vacinas disponíveis que ajudam a proteger gatos saudáveis. Nesses casos o acompanhamento médico veterinário é essencial para avaliar se essa é uma opção viável.
Em resumo, a convivência é possível em alguns casos, especialmente com gatos FIV-positivos, mas exige atenção redobrada e compromisso com a saúde e o bem-estar de todos os felinos, avaliando o risco de transmissão, o comportamento dos animais e as condições do ambiente.
Caso não seja possível garantir a segurança da convivência entre os animais saudáveis e infectados, é aconselhado que haja o isolamento do animal infectado para proteger os animais saudáveis de uma possível infecção retroviral e para protegê-lo de outras infecções secundárias que podem acometê-lo.
Vale lembrar que gatos com FIV ou FeLV podem ter uma qualidade de vida boa e longa, especialmente quando recebem cuidados veterinários regulares, alimentação de qualidade e vivem em um ambiente livre de estresse. A decisão de permitir a convivência entre gatos saudáveis e infectados deve sempre ser feita com orientação veterinária.
Situações particulares na conduta clínica de animais portadores de FIVe FeLV
A American Association of Feline Practitioners (AAFP) publicou em janeiro de 2020 no Journal of Feline Medicine and Surgery o último Guideline a respeito das retroviroses felinas, abrangendo o vírus da leucemia felina (FeLV) e o vírus da imunodeficiência felina (FIV). O documento é uma atualização do Guideline anterior sobre retrovírus felino da própria AAFP de 2008 e traz os conhecimentos atuais sobre diagnóstico, prevenção e manejo de infecções por retrovírus em felinos.
Abaixo discutiremos sobre alguns dos tópicos abordados no guideline da AAFP que são: Prevenção em gatis de criação, testes de animais em feiras de exposição, castração e adoção de animais infectados por FIV e FeLV.
Prevenção da FIV e FeLV em Gatis de Criação
A ocorrência de infecções por retrovírus em ambientes controlados de gatis costuma ser baixa, particularmente desde a década de 1970 onde os programas de teste e remoção para FeLV foram implementados.
No entanto, certas circunstâncias comuns em um gatil facilitam a transmissão de doenças infecciosas, como o convívio em grupo, filhotes convivendo com animais adultos, contato próximo de animais durante o acasalamento e a introdução de novos animais. Portanto, a vigilância contínua para prevenir a introdução de FeLV ou FIV em gatis é de extrema importância.
Somente animais saudáveis não infectados devem ser usados para reprodução e o status retroviral de todos os felinos no gatil (utilizados na reprodução ou não) deve ser conhecido. Ao realizar o teste no gatil pela primeira vez, todos devem ser testados para FeLV e FIV utilizando teste ambulatorial. Após 60 dias é necessário testar novamente resultados negativos para a verificação de falso-negativos. Pacientes infectados devem ser segregados no gatil.
Todos os recém adquiridos, filhotes ou adultos, devem ser colocados em isolamento e testados para FeLV e FIV após sua chegada. É recomendado que os recém-chegados sejam mantidos em isolamento por pelo menos 60 dias, até que um segundo teste verifique a possibilidade de um falso negativo, principalmente se forem originários de um gatil com status retroviral desconhecido.
Fêmeas enviadas para outra instalação para reprodução devem ser testadas antes de deixar o gatil de origem e devem ser expostas apenas a outros machos que tenham testado negativo para antígeno FeLV e anticorpo FIV. Ao retornar ao gatil de origem, a fêmea deve ser mantida em isolamento e testada novamente para FeLV e FIV após 60 dias.
Testes de animais em exposições ou feiras para FIV e FeLV
Exposições e feiras de gatos não são fontes significativas de infecção por retrovírus, uma vez que os retrovírus são suscetíveis a desinfetantes comumente usados na limpeza; além de possuírem uma natureza frágil em relação a superfícies secas, diminuindo muito o risco de contaminação ambiental.
Portanto gatos que deixarem o gatil apenas para exposições ou feiras não precisam de novos testes para FIV ou FeLV, exceto que tenha ocorrido contato direto com outro gato de status retroviral desconhecido.
Em gatis que seguem o guideline de testes e mantêm status negativo para retrovírus, a vacinação contra FeLV ou FIV não é necessária, considerando que nenhum paciente tenha acesso ao ar livre ou a outros felinos com status retroviral desconhecido. Em gatis que não mantêm machos reprodutores e dependem totalmente de machos de outros gatis, a vacinação de fêmeas reprodutoras contra FeLV é recomendada, além do teste de fêmeas que deixam o gatil para reprodução.
Testes em animais capturados somente para castração
Embora essas diretrizes recomendem amplamente testar todos os gatos para infecção retroviral, existe uma exceção para gatos de rua e gatos selvagens capturados e soltos em programas de castração e retorno.
O objetivo desses programas são a esterilização e vacinação de uma porcentagem suficiente de gatos de rua para reduzir a população.
Em estudos realizados na América do Norte, a prevalência de infecção por FeLV é semelhante em gatos de estimação que ficam ao ar livre e gatos sem donos. Em alguns países a prevalência de FIV foi registrada como maior em gatos selvagens quando comparada a prevalência em gatos com donos.
Por isso a castração é importante, ela reduz os dois modos mais importantes de transmissão: transmissão da mãe para filhotes quando se trata de FeLV e brigas entre machos quando se trata de FeLV e FIV.
Como o controle populacional de animais de rua requer um compromisso de esterilizar o maior número possível de pacientes, é recomendado que os recursos desses programas sejam focados em maximizar o número de gatos esterilizados e não no teste retroviral de rotina.
A adoção consciente de animais infectados por FeLV e FIV
Assim como a AAFP, a Association of Shelter Veterinarians (ASV) não recomenda a eutanásia de pacientes somente com base na infecção por retrovírus. Seguindo às metas de salvar todos os animais saudáveis e tratáveis, um número crescente de abrigos expandiu seus programas de adoção para incluir aqueles infectados por FeLV e FIV.
Esses animais são mantidos em alojamentos individuais ou acomodações em grupo que os segreguem de outros não infectados pendentes de adoção. Não há razões médicas para excluir gatos infectados por retrovírus de programas de adoção desde que eles sejam alojados separadamente e devidamente documentados.
Alguns abrigos desenvolveram programas de marketing e educação para garantir que esses animais não permaneçam desnecessariamente confinados em abrigos e recebam os cuidados pós-adoção de que necessitam, também visando minimizar o risco de espalhar a infecção para outros pets em seus novos lares. Um estudo demonstrou que a transmissão entre animais infectados com FIV e não infectados misturados em um abrigo pode não ocorrer, sugerindo que gatos infectados poderiam coabitar com FIV-negativos em determinadas circunstâncias.
Em contrapartida, alguns estudos verificaram que a transmissão de FeLV dentro de lares parece ser mais comum, esse fato sugere que pacientes infectados com FeLV devem ser adotados por lares que tenham apenas outros animais infectados ou que sejam adotados por tutores sem outros felinos. Ainda assim, como o estresse pode agravar o curso da infecção por FeLV e FIV, a adoção em um ambiente doméstico provavelmente resultará em melhores resultados a longo prazo.
Referências
- AAFP, Feline Retrovirus Testing and Management Guidelines. 2020; doi: 10.1177/1098612X19895940