A dor crônica em cães é caracterizada por sua longa duração e frequentemente associada a doenças crônicas. Contudo, também pode ocorrer mesmo sem a presença de uma condição clínica ativa, como no caso de dor pós-cirúrgica persistente.
Com o aumento da longevidade dos cães, a prevalência de condições dolorosas crônicas tem crescido. Alguns exemplos são: Osteoartrite (OA), doença de disco intervertebral, formas tratáveis de câncer e dores de origem médica (bexiga, rins, trato gastrintestinal).
Além disso, cães jovens com doenças ortopédicas de desenvolvimento apresentam risco elevado de experimentar dor crônica desde as primeiras fases da vida. A Osteoartrite, frequentemente resultante de doenças de desenvolvimento, pode surgir em cães jovens, tornando a dor associada a essa condição relativamente comum nessa faixa etária.
Portanto, cães de todas as idades podem ser afetados pela dor crônica. A identificação precoce dessa dor possibilita intervenções antecipadas, como alterações no estilo de vida, que podem desacelerar a progressão dessa condição debilitante.
O tratamento da dor crônica é desafiador devido à sua complexidade, e as respostas terapêuticas variam amplamente entre os indivíduos.
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Neste artigo iremos discutir mais sobre a dor crônica em cães e conceitos que a envolvem. Acesse nossos outros artigos sobre as diretrizes de manejo da dor da WSAVA para saber mais:
Avaliação e reconhecimento prático da dor crônica em cães
O reconhecimento da dor é essencial para seu manejo eficaz. Alterações comportamentais associadas à dor crônica podem surgir de forma gradual e, muitas vezes, são sutis, sendo perceptíveis apenas por indivíduos que convivem intimamente com o animal, como o cuidador.
Diversos instrumentos de avaliação estão disponíveis para medir a dor crônica em cães. Entre eles, o Breve Inventário de Dor Canina (BIDC) e o questionário de Osteoartrite em Cães de Liverpool (LOAD) são recomendados para uso clínico, com base nas evidências atuais.
Assim como nos gatos Linkar ao texto de dor crônica em gatos, outras ferramentas, como testes de estímulo quantitativo e monitores de atividade, são utilizadas em cães.
Os testes de estímulo quantitativo, em particular, podem oferecer informações valiosas para a avaliação da dor crônica. Estudos demonstram que cães com osteoartrite apresentam maior sensibilidade sensorial generalizada a estímulos externos, em comparação com cães saudáveis.
Uma vez validado, os testes de estímulo quantitativo, combinado a paradigmas de teste em ambiente controlado, pode se tornar uma ferramenta útil na prática clínica.
Embora existam sistemas de pontuação de dor qualitativa em cães, apenas alguns deles foram validados, destacando a importância de investigações futuras para ampliar as opções disponíveis.
Ferramentas utilizadas para triagem e avaliação de dor crônica em cães
Tabela 1
Ferramentas utilizadas para triagem e avaliação de dor crônica em cães Instrumentos de metrologia clínica (CMI) e avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde (QdVRS) | |||
Ferramenta | Tipo | Condição | Observação |
Ferramenta de Estadiamento de Osteoartrite Canina (COAST) | Triagem | Osteoartrite | Consiste em três passos distintos para graduação da dor do cão, da articulação e estadiamento da OA Ajuda os veterinários a identificar a OA mais cedo e monitorar a progressão com o tempo |
Breve Inventário de Dor Canina (CBPI) | Instrumentos de Metrologia Clínica | Osteoartrite e câncer ósseo | Consiste em 11 itens para avaliação da intensidade da dor e da interferência da dor na função, e impressão geral da qualidade de vida. Os itens são pontuados em uma escala Likert |
Questionário de Osteoartrite em Cães de Liverpool (LOAD) | Instrumentos de Metrologia Clínica | Osteoartrite | Contém 13 itens para avaliação da mobilidade geral e da mobilidade durante exercícios. Os itens são pontuados em uma escala Likert |
Índice de Dor Crônica de Helsinki (HCPI) | Instrumentos de metrologia clínica | Osteoartrite | Consiste em 11 itens pontuados em uma escala Likert |
Avaliação do Sono e inquietação noturna (SNoRE) | Sono e inquietação noturna | Osteoartrite | Originalmente seis itens, atualmente, uma versão de cinco itens (2.0) é recomendada, com questões focadas no sono e pontuadas em uma escala Likert |
Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QdVRS) | Qualidade de vida relacionada à saúde | Doença crônica | A versão mais recente possui 22 itens divididos em quatro domínios de qualidade de vida em cães (Disposto e Entusiasmado, Feliz e Contente, Ativo e Confortável, e Calmo e Relaxado) |
Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QdVRS) | Qualidade de vida relacionada à saúde | Osteoartrite | Uma estrutura conceitual para avaliação da QdVRS foi desenvolvida como informativo para uma potencial ferramenta. Focada em quatro domínios (aparência física, capacidade, comportamento e humor) |
Comportamentos incluídos na avaliação de dor crônica
- Vitalidade e Mobilidade: Avaliar se o cão está disposto, feliz, ativo ou, ao contrário, letárgico e apático, além de observar como ele realiza movimentos cotidianos como se deitar, levantar, sentar-se, saltar e tolerar exercícios. Esses aspectos fornecem pistas importantes sobre possíveis limitações causadas pela dor crônica.
- Humor e Atitudes: Observar o estado emocional do cão, como estar alerta, ansioso, introvertido, triste, confiante ou brincalhão. Alterações no humor podem refletir desconforto ou sofrimento decorrente de dores persistentes.
- Níveis de Sofrimento: Identificar sinais evidentes de sofrimento, como vocalizações (gemidos, grunhidos) e mudanças na interação com outros cães e humanos. Essas manifestações são indicadores de que a dor pode estar afetando o bem-estar do animal.
- Indicadores de Dor: Examinar sinais físicos, como níveis de conforto, rigidez muscular, claudicação e resultados de um exame ortopédico. Essas evidências são cruciais para diagnosticar a presença e a intensidade da dor crônica.
- Demonstração de Dor nas Estruturas Somáticas: Realizar avaliações mais específicas, como exame miofascial e identificação de padrões de tensão muscular, para detectar áreas dolorosas ou restrições causadas por dor em estruturas somáticas.
Cada um desses elementos contribui para uma avaliação abrangente, permitindo identificar e tratar de forma mais especifica a dor crônica nos cães.
Referências
P. Monteiro, X. LasceLLes , J. MurreLL, S. Robertson, M. Steagall e B. Wright. Diretrizes da WSAVA de 2022 para reconhecimento, avaliação e tratamento de dor; 2022.