Por Digivets

Setembro 10, 2025

Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar

Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar (PGMSM), criado com financiamento do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná, reúne informações sobre ocorrência de fauna silvestre e fortalece a tomada de decisão em importantes áreas protegidas da Mata Atlântica

O maior programa de monitoramento de fauna silvestre da Serra do Mar, no litoral do Paraná, acaba de dar um passo decisivo para a consolidação de estratégias de conservação da biodiversidade baseadas em dados. Com financiamento do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná, o Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar (PGMSM) lançou uma plataforma interativa inédita que reúne registros de espécies de fauna de médio e grande porte obtidos em ações de campo desde 2021.

Destinada exclusivamente à Rede de Monitoramento e instituições parceiras, a plataforma digital consolida dados captados por armadilhas fotográficas distribuídas em mais de 140 pontos entre áreas protegidas na Grande Reserva Mata Atlântica, em territórios privados no Paraná e parte do estado de São Paulo. A iniciativa é considerada um divisor de águas na gestão da biodiversidade regional.

“Desde o início, nossa meta era transformar informação técnica em algo acessível, funcional e estratégico para quem está na linha de frente da conservação”, explica Roberto Fusco, coordenador do PGMSM. “Agora conseguimos visualizar espacialmente onde as espécies estão ocorrendo, quantos registros existem, e isso ajuda diretamente no planejamento de corredores ecológicos, planos de manejo e decisões de gestão”.

Novidade é fruto de experiência acumulada e parcerias

O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar foi criado oficialmente em 2019, mas surge da experiência acumulada por mais de 15 anos de pesquisas de campo e articulações institucionais lideradas por pesquisadores e técnicos do litoral do Paraná. Ele é resultado da persistência e união de esforços de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Cananéia e Instituto Manacá. Com uma proposta interinstitucional, o programa atua na integração de dados, metodologias e atores locais, e se consolidou como referência na conservação de espécies como onças-pintadas, antas e queixadas — indicadores importantes do estado de saúde de um ecossistema.

A plataforma recém-lançada também é fruto de uma colaboração com o Instituto Federal do Paraná (IFPR), por meio de sua incubadora tecnológica, e foi construída com base em soluções do Power BI, adaptadas à realidade da gestão ambiental. Segundo Fusco, a tecnologia foi escolhida por ser robusta, acessível e versátil, permitindo filtros por grupo faunístico, espécie, localização e ano de ocorrência.

“Nós conseguimos filtrar, por exemplo, apenas os registros de mamíferos no Parque Nacional Guaricana, ou focar em espécies exóticas como cachorros-domésticos, javalis, cavalos e búfalos, que também aparecem nas imagens”, explica. “Até agora, cerca de 67 espécies já foram registradas na plataforma”. O diferencial da ferramenta está não apenas na quantidade de dados, mas na forma como eles são apresentados a quem os consulta. Mapas de calor, gráficos de bolhas e visualizações georreferenciadas facilitam a análise e o entendimento dos dados por parte de técnicos, pesquisadores e tomadores de decisão.

Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar (PGMSM), criado com financiamento do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná, reúne informações sobre ocorrência de fauna silvestre e fortalece a tomada de decisão em importantes áreas protegidas da Mata Atlântica

Uma ferramenta a serviço da conservação, da pesquisa e da gestão

A plataforma oferece suporte para diversos usos: desde o planejamento do uso do solo e definição de zonas de amortecimento até a elaboração de estudos ambientais, processos de licenciamento e pesquisas científicas de longo prazo. Todos os dados passam por um rigoroso processo de triagem, que é realizado manualmente pelos pesquisadores a partir das imagens coletadas pelas armadilhas fotográficas, sistematização e processamento.

“A Inteligência Artificial ainda apresenta muitas falhas para esse tipo de identificação. Por isso, fazemos a análise visual, espécie por espécie, garantindo maior qualidade e confiabilidade para os registros”, comenta Fusco. A infraestrutura de monitoramento é complexa e exige uma logística cuidadosa. Cada armadilha fotográfica permanece em campo por cerca de 60 dias e é instalada estrategicamente em trilhas, margens de cursos d’água e outras áreas com alta probabilidade de circulação de fauna. Ainda assim, o projeto enfrenta desafios sérios, como o furto de equipamentos por caçadores. “Já tivemos mais de 30 armadilhas roubadas desde 2021”, relata o coordenador.

Acesso restrito e uso responsável dos dados

Para garantir a integridade das informações e evitar o uso indevido por caçadores ou traficantes de fauna, o acesso à plataforma é controlado. Apenas membros da Rede de Monitoramento e parceiros institucionais podem visualizar os dados após aprovação de cadastro. “Esses dados são bastante sensíveis. Não podemos correr o risco de que eles caiam em mãos erradas. Por isso, a plataforma é restrita, voltada exclusivamente aos atores de conservação da região”, reforça Fusco.

Além da proteção da biodiversidade, a equipe do PGMSM acredita que a ferramenta contribuirá para ampliar a visão sistêmica dos gestores sobre o território. A proposta é que os dados não sejam utilizados apenas para olhar “o próprio quintal”, mas para compreender o cenário em nível de paisagem, conectando áreas, estratégias e instituições.

Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar (PGMSM), criado com financiamento do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná, reúne informações sobre ocorrência de fauna silvestre e fortalece a tomada de decisão em importantes áreas protegidas da Mata Atlântica

Impacto regional e perspectiva de continuidade

A coordenadora de comunicação do PGMSM, Laila Rebecca, destaca que o monitoramento é um símbolo do amadurecimento do trabalho de campo em um território tão valioso e estratégico para a Mata Atlântica. “É a primeira vez que temos uma plataforma com essa amplitude e profundidade de dados sobre a fauna da Serra do Mar. Ela fortalece o olhar de paisagem, permite uma gestão mais integrada e qualificada, e mostra o quanto os investimentos do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná são decisivos para gerar resultados concretos”, afirma.

A longo prazo, a equipe do PGMSM pretende manter e expandir a plataforma, integrando novos dados, ampliando a área de cobertura e fortalecendo sua utilidade como fonte para políticas públicas, pesquisas e decisões ambientais. Para isso, será necessário garantir a continuidade do financiamento. “Esses dados já têm impacto. Eles podem ser usados para construir planos de manejo, subsidiar estudos ambientais e fortalecer políticas públicas. Mas a plataforma é um organismo vivo, que precisa de atualização constante”, conclui Fusco. 

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