Por Digivets

Dezembro 13, 2024

dor Aguda em cães

A dor aguda em cães é uma condição comum, resultante de traumas, cirurgias, problemas médicos, infecções ou doenças inflamatórias. Sua intensidade pode variar de leve a severa, com duração que vai de algumas horas a vários dias.

O manejo eficaz da dor depende da habilidade e capacitação da equipe veterinária para identificar e avaliar a dor de forma precisa. Após a alta hospitalar, é essencial que os cuidadores sejam orientados a reconhecer os sinais de dor no animal e a administrar o tratamento conforme indicado, incluindo a prescrição adequada de analgésicos. 

Embora parâmetros objetivos, como frequência cardíaca, pressão arterial e níveis plasmáticos de cortisol e catecolaminas, tenham sido associados à dor aguda em cães, eles não são totalmente confiáveis. Isso ocorre porque fatores como estresse, medo, ansiedade e medicamentos anestésicos podem influenciar essas medições. 

Por essa razão, a avaliação da dor em pacientes não verbais como os cães é predominantemente subjetiva, baseada principalmente na observação de alterações comportamentais. 

O manejo da dor aguda em cães inclui intervenções analgésicas, monitoramento cuidadoso e, frequentemente, suporte não farmacológico, garantindo não apenas o conforto do animal, mas também uma recuperação mais rápida e tranquila.

Nós da Digivets reforçamos nosso compromisso com a curadoria de conteúdos científicos relevantes e atualizados.  

Em nossa sessão exclusiva, você encontrará um resumo claro e eficiente dos principais pontos deste guideline e de outros assuntos, facilitando o seu acesso às melhores práticas e tendências globais em medicina veterinária. 

Conte conosco para trazer informações que transformam sua rotina clínica! 

Neste artigo iremos discutir mais sobre os principais conceitos que envolvem a dor aguda em cães. Acesse nossos outros artigos sobre as diretrizes de manejo da dor da WSAVA para saber mais: 

  1. Dor em cães e gatos
  2. Como reconhecer a dor Aguda em gatos? 
  3. Como reconhecer a dor Aguda em cães? 
  4. Como reconhecer a dor Crônica em gatos? 
  5. Como reconhecer a dor Crônica em cães? 

A Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA) lançou em 2022 o Guideline voltado para reconhecimento, avaliação e tratamento da Dor em Cães e Gatos. Trata-se de uma atualização do antigo guideline de mesmo título publicado em 2014 pela própria WSAVA. 

O documento de 2022 reflete os grandes avanços na medicina da dor veterinária nos últimos 10 anos, trazendo informações científicas atualizadas em relação ao primeiro documento. um material essencial para profissionais que buscam aprimorar o cuidado e o bem-estar dos seus pacientes. 

Avaliação e reconhecimento prático de dor aguda

A expressão comportamental da dor em cães é particular da espécie e pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo idade, raça, temperamento, tipo e duração da dor, estado clínico e a presença de estressores adicionais, como ansiedade ou medo.  

Doenças debilitantes podem limitar significativamente os indicadores comportamentais que normalmente seriam observados em resposta à dor. Por exemplo, cães podem evitar vocalizar ou se movimentar como forma de prevenir o agravamento do desconforto. 

Na avaliação da dor, é essencial considerar múltiplos aspectos, como o tipo, localização e duração de uma cirurgia, problema médico ou extensão da lesão. Conhecer o comportamento típico do cão é especialmente útil, já que alterações comportamentais são sinais importantes de dor.  

Por exemplo, um cão normalmente alegre que não brinca mais, mesmo após um extenso período após uma cirurgia — momento em que os comportamentos habituais do animal já deveriam ter sido retomados — pode estar sofrendo de dor. 

Embora mudanças na expressão facial relacionadas à dor ainda não tenham sido claramente documentadas em cães, é muito provável que existam, representando um campo promissor para estudos futuros. 

Mudanças de comportamento associadas à dor Aguda 

A dor aguda é um desafio clínico frequentemente enfrentado na prática veterinária e pode ser decorrente de eventos como trauma, cirurgias, infecções ou doenças inflamatórias.  

Em cães, a manifestação da dor é expressa principalmente por meio de mudanças comportamentais, já que eles não possuem meios verbais para comunicar o desconforto. Reconhecer esses sinais é fundamental para o manejo eficaz da dor e para o bem-estar do animal.  

Assim, a observação cuidadosa do comportamento habitual do cão e das alterações que ocorrem em resposta à dor permite uma avaliação mais precisa, orientando intervenções terapêuticas. 

Os sinais de dor aguda podem variar em intensidade e forma dependendo do indivíduo, da causa da dor, do ambiente em que o cão se encontra e de fatores emocionais, como medo ou ansiedade. 

Abaixo estão detalhados os principais indicadores comportamentais associados à dor aguda em cães: 

  • Mudança na postura corporal ou posição do corpo: Cães com dor frequentemente adotam posturas anormais. Por exemplo, podem permanecer com o corpo arqueado ou encurvado, indicando desconforto abdominal, ou evitar deitar-se de um lado específico para proteger uma área dolorida.  

A “posição de oração”, na qual o cão fica com os membros anteriores estendidos e o tórax próximo ao chão, é frequentemente observada em casos de dor abdominal. Uma postura rígida e tensa também é comum em casos de dor muscular ou esquelética. 

  • Redução da atividade e/ou disposição para brincar: Um cão que geralmente é ativo e brincalhão pode se tornar mais quieto e relutante em se movimentar quando está com dor. Ele pode evitar correr, saltar ou até mesmo realizar atividades rotineiras, como subir escadas. 
  • Menor interesse no ambiente: Cães com dor tendem a demonstrar menos curiosidade em relação ao que acontece ao seu redor. Podem ignorar estímulos que normalmente chamariam sua atenção, como sons ou movimentos. 
  • Menos disposição para interagir: A interação com pessoas ou outros animais pode diminuir. Um cão afetuoso pode se isolar ou evitar contato físico, mostrando sinais de desconforto ou irritação. 
  • Diminuição do apetite: A dor pode levar à perda de interesse na comida. Cães que normalmente comem com entusiasmo podem passar a deixar parte ou toda a refeição. 
  • Marcha anormal ou transferência do peso: Dificuldade ao caminhar, claudicação ou a tentativa de evitar o uso de um membro específico são sinais comuns de dor em membros ou articulações. 
  • Mudança de atitude: Mudanças de comportamento, como um cão calmo se tornar agressivo ou um cão amistoso se tornar recluso, podem ser indicativos de dor. 
  • Vocalização (ganido ou choro): Ganidos, choros ou até mesmo gemidos baixos podem ser manifestações de dor, especialmente durante o movimento ou manipulação. 
  • Atenção a uma área específica do corpo: Lamber, morder ou coçar uma região específica, especialmente em torno de feridas ou lesões, pode ser um sinal de dor localizada. 
  • Reação alterada ao toque ou palpação suave em uma área dolorida: Ao serem tocados em áreas sensíveis, cães podem reagir afastando-se, protegendo a região ou demonstrando sinais de agressividade. 
  • Depressão e imobilidade: Parece tenso e distante do ambiente, por causa da dor grave podem apresentar letargia extrema, ficando imóveis e sem interesse no ambiente ao redor. Podem parecer apáticos e com uma expressão distante. 

Esses sinais comportamentais são ferramentas valiosas para identificar a dor aguda em cães, mesmo em casos sutis. Monitorar essas mudanças e utilizá-las em conjunto com escalas de avaliação de dor proporciona uma abordagem mais completa e eficaz para o manejo da dor aguda. 

Protocolo de avaliação e reconhecimento prático de dor aguda em cães 

O reconhecimento da dor aguda em cães baseia-se em uma avaliação criteriosa e rotineira dos sinais comportamentais e fisiológicos de dor. Esse processo é mais eficaz quando realizado por meio da observação detalhada e interação direta com o paciente, complementado pelo conhecimento sobre a condição clínica, o histórico do animal e os procedimentos cirúrgicos ou médicos realizados.  

É importante diferenciar sinais de dor de outros estados, como a disforia, que pode ocorrer após a administração de opioides. Disforia é frequentemente caracterizada por comportamentos como ofegação excessiva, vocalização persistente, náuseas ou vômitos. Esse discernimento é essencial para evitar diagnósticos errôneos e para ajustar o tratamento de maneira apropriada. 

Quando a dor é identificada, o tratamento deve ser iniciado imediatamente para proporcionar alívio efetivo ao animal. A avaliação contínua é fundamental para monitorar a eficácia da analgesia, devendo ser realizada inicialmente a cada 2 a 4 horas, dependendo da duração do efeito dos medicamentos utilizados.  

Em pacientes pós-cirúrgicos, a dor pode ser avaliada já a partir de 30 minutos após a extubação. A frequência de reavaliações deve ser ajustada de acordo com a intensidade e o tipo de dor apresentada, bem como com a duração da ação dos analgésicos administrados, garantindo que o controle da dor seja sustentado e eficaz ao longo do tempo. 

  1. Observe o animal à distância, em seu espaço (gaiola, cama ou canil), e observe sua postura, expressões faciais, atenção à ferida, interesse pelo ambiente ao redor e tipo de vocalização, ou a ausência dela.  

Se o animal estiver visivelmente dormindo de forma confortável e relaxada, evite perturbá-lo. 

  1. Aproximar-se do animal de maneira calma e abrir a gaiola ou canil enquanto observa a reação do animal. 
  1. Interaja com o animal chamando seu nome em tom suave, acariciando ou brincando, enquanto observa como ele reage.  

Se o animal não demonstrar interesse em interagir, não force e permita que ele tenha seu espaço. 

  1. Se possível, ao tocar o animal, aproxime a mão da área dolorida. Primeiro, tente tocá-la e, em seguida, aplique uma leve pressão.  

Interrompa o toque assim que o animal mostrar uma reação comportamental, como lamber os lábios, engolir, virar a cabeça em direção à sua mão, recuar, proteger, rosnar, estalar, tentar morder ou chorar. 

  1. Utilize uma escala de dor para avaliar o nível de dor do animal, com base em suas observações. 

Ferramentas de pontuação da dor 

A avaliação da dor em cães exige ferramentas que apresentem validade, confiabilidade e sensibilidade para detectar mudanças, pois a dor é um fenômeno subjetivo e abstrato. Não existe um padrão-ouro para a mensuração da dor, especialmente devido ao desafio de avaliar seu componente afetivo – ou seja, como a dor impacta emocionalmente o animal.  

Nesse contexto, o guideline para o Controle da Dor da WSAVA (World Small Animal Veterinary Association) recomenda o uso de escalas de dor compostas que tenham validação científica, na tabela 1 estão alguns exemplos. 

É importante observar que fatores como sedação podem influenciar os escores dessas escalas, apresentando desafios para a interpretação. Portanto, ao utilizar essas ferramentas, é essencial considerar o estado geral do paciente e outros fatores contextuais, garantindo que a necessidade de analgesia adicional seja determinada com base em uma avaliação integrada e criteriosa. 

Tabela 1 

Ferramentas utilizadas para avaliar dor aguda em cães 
Ferramenta Tipo Condição Observação 
Escala de dor composta de Glasgow – Formulário Curto (CMPS-SF) Comportamento Qualquer dor cirúrgica ou médica Contém seis itens; cada um com uma gama diferente de pontuações possíveis.  A pontuação máxima é 24 (ou 20, quando não é possível avaliar a mobilidade). Pontuação de corte para analgesia SOS: ≥6/24 (ou ≥5/20 quando não é possível avaliar a mobilidade). 
Sistema de pontuação de dor da Associação Francesa de Anestesia e Analgesia (4A-Vet) Comportamento Cirurgia ortopédica Contém 6 itens de pontuação 0 a 3. A pontuação máxima é 18.  Não existe pontuação de corte disponível. 
Escala de dor da Universidade de Melbourne Comportamento e dados fisiológicos  Ovariohisterectomia  Inclui múltiplos descritos em seis categorias incluindo dados fisiopatológicos e reações comportamentais.   A pontuação máxima é 27. Não há pontuação de corte disponível no artigo original 

Referências 

P. Monteiro, X. LasceLLes , J. MurreLL, S. Robertson, M. Steagall  e  B. Wright. Diretrizes da WSAVA de 2022 para reconhecimento, avaliação e tratamento de dor; 2022. 

Compartilhar Post

Artigos relacionados