Agenda Regulatória, Inteligência Artificial, Gêmeos Digitais e tendências globais foram os principais temas do Future Pharma 2025
O Future Pharma, evento que se propôs a redefinir o diálogo e a inovação nas indústrias farmacêutica, biotecnológica, cosmética, veterinária e nutracêutica, encerrou com sucesso sua primeira edição ontem, 21 de outubro, em São Paulo, SP. O encontro contou com palestrantes internacionais e nacionais de peso que trouxeram perspectivas globais e insights sobre as tendências que estão moldando o futuro da indústria de fabricação de medicamentos. Além disso, players fundamentais do setor estiveram presentes, como a ANVISA, COVISA, Conselho Federal de Farmácia (CFF) e Sindusfarma, entre outros, junto a mais de 260 participantes do evento.
“O Future Pharma se consolidou como uma plataforma de novos negócios que debate as tendências, necessidades e urgências para o setor de Life Sciences. Em um momento de transformações tão profundas,conseguimos trazer um panorama do setor farmacêutico e biotecnológico, uma agenda regulatória de grande força e temas emergentes, como Inteligência Artificial e cibersegurança”, enfatizou Luis Veiga, cofundador do Future Pharma 2025.
A primeira edição do Future Pharma contou com o patrocínio de renomadas empresas no setor – entre elas Biopuremax, Johnson Controls/Green BMS, Stockval, ZDL, Honeywell Life Sciences, Eletroinox, Conversys IT e Midea Carrier – e com importantes apoiadores, como a Nordika Advanced Engineering, a Associação Brasileira de Startups de Saúde – ABSS, o Instituto de Engenharia, NMED, About Me e MD Consultoria.
A novidades da agenda regulatória e da Reforma Tributária
A agenda regulatória e seus impactos foram um pilar fundamental do evento. Elkiane Macedo Rama, Diretora Adjunta da ANVISA, enfatizou o fortalecimento da atuação sanitária por meio da Inteligência Artificial, discutindo a regularização de produtos com IA e as considerações éticas. Elkiane detalhou como a Anvisa está explorando a IA para sugerir decisões, automatizar recursos administrativos e desenvolver diversos chatbots para agilizar processos internos. A agência reforça, contudo, que o uso da IA é pautado pela auditabilidadee participação humana na tomada de decisão, garantindo que a palavra final sempre venha de um especialista, aliando inovação à responsabilidade regulatória.

Em outro painel, a Mesa Reforma Tributária evidenciou o clima de cautela no setor farmacêutico diante das novas diretrizes fiscais. As especialistas Natasha Makiyama e Carolina Joop (ambas da RFAA), Lais Helena Maia (Supera RX) e Danielle Pinho (Novartis contextualizaram a necessidade que a reforma tributária exige de um redesenho operacional completo e uma revisão de planos de investimento, especialmente com a perda de benefícios fiscais prevista para 2032. A adaptação requer a mobilização de comitês internos e a educação contratual, além de um diálogo constante com parceiros externos para mitigar riscos. Apesar dos desafios, há um otimismo generalizado em relação à simplificação do “manicômio tributário” brasileiro, que poderá trazer mais transparência e agilidade para a indústria.
O Sindusfarma apresentou um mercado robusto, mas permeado por desafios regulatórios significativos. A alta carga tributária (cerca de 33% do preço final do medicamento), a judicialização e a baixa participação brasileira em pesquisa clínica são entraves que dificultam o acesso e a inovação. No entanto, a entidade vê na reforma tributária e na nova lei de pesquisa clínica oportunidades para reduzir a dependência tecnológica, fomentar a inovação e aliviar o peso fiscal sobre medicamentos. A necessidade de uma fiscalização mais rigorosa e de um diálogo constante entre os stakeholders também foi colocada como fundamental para um ambiente regulatório mais propício ao crescimento e à saúde da população.
E para completar o ciclo, as palestrantes da COVISA, Tatiana Oliveira da Silva e Michelle Ribeiro de Souza, apresentaram a importância da cultura de qualidade proativa e abrangente nas empresas, com ênfase na documentação e gerenciamento de riscos como pilares inegociáveis para a segurança do paciente e conformidade regulatória.
As palestrantes ressaltaram que a ausência de registros adequados de desvios, a superficialidade na avaliação de riscos (como a banalização do FMEA) e a dependência de conhecimento individual de colaboradores geram ambientes de trabalho tóxicos e inviabilizam um controle efetivo do ciclo de vida do produto. A COVISA defendeu que a qualidade deve ser um processo dinâmico, contínuo e preventivo, integrado desde o desenvolvimento até a descontinuação, e não uma reação a problemas já instalados.
Inteligência Artificial e Gêmeos Digitais para o setor de Life Science
O painel composto por Marcio Kanamaru (FutureMyBiz), Domingos Bruno (Sr Tech Advisor) e Diego Neufert (CTO EMS Pharma) revelou como a Inteligência Artificial está revolucionando a indústria farmacêutica, trazendo avanços sem precedentes, principalmente na descoberta de novos medicamentos. A IA acelera drasticamente o processo de drug discovery, permitindo a análise de milhões de moléculas em segundos, um feito que antes levaria anos. Ferramentas como o AlphaFold do Google e a capacidade de simulação em “dry level” prometem reduzir o tempo de desenvolvimento de medicamentos de décadas para meros anos, e futuramente meses ou dias, abrindo caminho para terapias ultra-personalizadas, baseadas no perfil genético individual.
Além disso, a IA está impulsionando a “hiper-personalização” em outras áreas, como a otimização de vendas (criando “gêmeos digitais” de vendedores eficazes) e a gestão da cadeia de suprimentos, onde simulações de milhares de cenários aprimoram a previsão de demanda e a eficiência operacional. As “super drogas” baseadas em peptídeos, que poderão ser criadas com impressoras 3D e tratarão múltiplas condições, são um exemplo concreto do futuro impulsionado por essa tecnologia.

No entanto, a discussão também destacou desafios significativos. A principal barreira para a adoção plena da IA reside na qualidade e governança dos dados, com a necessidade urgente de estruturar e higienizar informações para evitar a “alucinação” da IA. Uma das novidades mais impactantes é o debate sobre a responsabilização dos agentes de IA, sugerindo que cada um poderia precisar de uma “procuração” de um humano para suas ações, levantando questões éticas e legais.
O “Open Health” foi apresentado como uma via promissora para o compartilhamento de dados de saúde de forma anônima e segura, gerando insights valiosos, mas exigindo um alto grau de credibilidade e governança regulatória para equilibrar o potencial do aprendizado massivo com as exigências de privacidade.
Outro ponto crucial é o descompasso entre o diagnóstico precoce e o tratamento, onde a IA consegue identificar doenças (como certos tipos de câncer) anos antes do que o olho humano, mas nem sempre há tratamentos profiláticos disponíveis ou homologados para essas detecções ultrarrápidas. Em suma, os especialistas enfatizam que a IA não é mais um “hype”, mas uma realidade transformadora. A mensagem final é clara: indivíduos e empresas devem dar o primeiro passo, testar as ferramentas disponíveis e, sobretudo, preparar seus dados para essa revolução, sob o risco de ficarem para trás na incessante corrida da inovação tecnológica.
Edgar Zattar, CTO da Conversys IT, abordou a cibersegurança como um pilar essencial para proteger o “DNA Digital” da indústria, enfatizando a resiliência de dados como crucial para salvaguardar inovações que, em última instância, salvam vidas. Em 2025, o Brasil registrou mais de 2.664 ataques semanais por organização de saúde, um aumento de 73% em ransomware, tendo o setor de saúde superado o financeiro como principal alvo. Violações de dados custaram US$ 2,78 bilhões em 2024. Apesar de ser uma prioridade estratégica, o orçamento para cibersegurança será o quarto em destinação, mas o investimento no Brasil deve crescer 43% até 2028, chegando a R$ 104 bilhões, impulsionado pelo setor de saúde.
Silmas Pareico, CCO da Nordika, detalhou como o Building Information Model (BIM) transcende o projeto tradicional, transformando desenhos em modelos realistas para planejar e operar instalações. Ele ressaltou que o BIM permite a detecção de conflitos, otimiza revisões colaborativas e acelera o cronograma com simulações avançadas. O ponto central é que o modelo BIM se desenvolve ao longo do ciclo de vida do projeto para se tornar um Gêmeo Digital, uma representação virtual precisa e atualizada da realidade física, essencial para o controle de ativos, a gestão de manutenção, o treinamento de operadores e o monitoramento em tempo real de operações pós-construção, sublinhando que o sucesso de sua implementação depende de uma cultura organizacional focada em eficiência e inovação.
O Future Pharma abordou temas como a Transferência Segura e Eficiente de Fluidos, com Paulo Catapreta (ZDL) e Sueli Aguiar (Dupont), e destacou uma palestra para falar de Equipamentos e Controle de HVAC em Salas Limpas, ministrada por Marcelo Rissato (da Johnson Controls).

Tendências Globais em Biofarmacêuticos e Gestão de Processos
Um dos pontos altos do evento, foram as perspectivas mais avançadas trazidas pelos Keynote Speakers internacionais. A começar por Shlomo Sackstein, CEO da Biopuremax. Com 30 anos dedicados à engenharia e à gestão de sistemas de água de alta pureza, ele é uma verdadeira autoridade global. Presidiu o comitê responsável pela norma internacional ISO 22519, que estabelece os mais rigorosos padrões para a produção de Água para Injetáveis (WFI) baseada em membranas – um método revolucionário que garante a pureza essencial para a segurança de milhões de pacientes e substitui sistemas térmicos tradicionais – que possuem alto custo energético como a destilação multifásica, que chega a ser 3,5 vezes mais cara que osmose reversa.
A Biopuremax já desenvolveu um processo químico livre de regeneração, eliminando amaciadores e reduzindo custos, enquanto a nova ISO exige monitoramento online de Carbono Orgânico Total (TOC) e sanitização avançada para garantir controle microbiológico mais rigoroso.
Para Rafael Ferraro, executivo da Stockval Alphinity, o crescimento acelerado dos biofármacos na América Latina – de US$ 26,25 bilhões em 2024 para uma projeção de US$ 49 bilhões em 2030 – exige maior eficiência no downstream, etapa que consome até 80% dos custos de produção. Soluções como filtração tangencial em alta pressão e sistemas single-use estão ganhando espaço, com equipamentos como a bomba Pixer. A medicina personalizada também demanda flexibilidade, impulsionando a adoção de hardware modular, como um modelo compacto para volumes reduzidos de 22,8mL.
Bart Reitter, VP Americas da Honeywell Life Sciences, destaca que, enquanto pequenas moléculas ainda dominam 55% do mercado global, a complexidade de terapias avançadas, como celulares e gênicas, e produtos combinados exige maior integração entre sistemas. A falta de conexão entre ERPs, MES e QMS cria o chamado efeito cadeira giratória, onde profissionais perdem tempo alternando entre plataformas desconectadas.
Empresas terceirizadas estão adotando soluções como o software trackwise para unificar dados e reduzir retrabalhos, enquanto a automação de cadeias de suprimentos traz desafios adicionais, como riscos de cibersegurança, exigindo monitoramento em tempo real de APIs para prevenir desvios antes do fim do lote. A indústria, portanto, busca equilibrar inovação com robustez operacional, garantindo eficiência e conformidade em um cenário regulatório cada vez mais exigente.
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