As recentes situações de tragédia trazidas pelas mudanças climáticas devem fazer todos os profissionais de saúde ficarem atentos ao aumento nos casos desta doença
Entre as enfermidades relacionadas à carência de saneamento no Brasil, a leptospirose emerge como um desafio de grande relevância para a saúde pública. Esta doença é endêmica, mas assume proporções epidêmicas durante os períodos chuvosos, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas e regiões metropolitanas.
A leptospirose é uma enfermidade infecciosa causada por uma bactéria pertencente ao gênero Leptospira, que afeta tanto seres humanos quanto animais. Trata-se de uma zoonose de alcance global, com incidência mais pronunciada em regiões tropicais, onde as condições sanitárias deficientes e a ausência de medidas apropriadas de saneamento ambiental contribuem para aumentar o risco de propagação da doença.
Os recentes episódios de inundações e cheias que atingiram diversas regiões do Brasil, e em especial a tragédia atual no Rio Grande do Sul, fazem com que os profissionais de saúde passem a se preocupar com surtos da doença.
Uma equipe de pesquisadores de uma Universidade do Rio de Janeiro analisou os dados de prevalência da doença, já sendo capaz de quantificar esse aumento de incidência da Leptospirose. O recorte do estudo abrangeu o estado do Rio de Janeiro, no período entre 2007 (início dos registros) e 2022. A pesquisa realizada evidenciou uma correlação forte e moderada entre casos confirmados de leptospirose e desastres hidrológicos no estado do Rio de Janeiro, nos períodos de 2007 a 2019 e 2007 a 2022, respectivamente.
No contexto dos impactos decorrentes de eventos climáticos cada vez mais intensos, o Ministério da Saúde e a Fiocruz destacam a importância do setor de saúde em reconhecer as crescentes evidências que associam as mudanças climáticas a uma variedade de problemas de saúde. Essas alterações não apenas afetam a disseminação de doenças transmitidas por vetores, a poluição do ar e a qualidade da água potável, mas também têm impactos na saúde humana de diversas maneiras. As consequências diretas e indiretas dessas mudanças climáticas e ambientais podem ser percebidas na saúde e no bem-estar geral da população.