O FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) e a FeLV (Vírus da Leucemia Felina) são doenças virais que afetam gatos, causando impactos significativos no sistema imunológico e na saúde geral. Ambas são transmitidas principalmente pelo contato entre felinos e podem permanecer assintomáticas por longos períodos, o que dificulta a detecção precoce.
Os sintomas de FIV e FeLV podem variar amplamente dependendo do estágio da doença e do histórico do animal, neste artigo citaremos os principais sintomas de FIV e sintomas da FeLV.
Ocorrência
A FeLV e o FIV estão entre as doenças infecciosas mais comuns em gatos ao redor do mundo. Um artigo publicado no Preventive Veterinary Medicine traz a informação de um estudo realizado no Brasil, onde cerca de 34,3% dos gatos domésticos foram diagnosticados com FIV enquanto 1,2% para FeLV. Já outro estudo efetuado por um grupo da Universidade do Estado de Santa Catarina realizado no planalto de Santa Catarina, demonstrou maior prevalência para a infecção pela FeLV 22,26% do que para FIV 5,84%.
No último Guideline publicado pela American Association of Feline Practitioners (AAFP) a respeito de FIV e FeLV são apresentados os dados de estudos realizados entre os anos de 2008 e 2016 sobre a distribuição de antígeno FeLV e anticorpo FIV no mundo. A América Latina apresentou 13% de prevalência para o primeiro enquanto o segundo teve um total de 7%.
Esses dados mostram que independente da prevalência ser maior de FIV ou de FeLV em algumas regiões, a ocorrência de ambas as infecções retrovirais se mostrou altíssima em todos os estudos.
Neste artigo iremos discutir sobre os conceitos básicos que cercam as infecções retrovirais FIV e FeLV. Acesse nossos outros artigos voltados ao novo guideline sobre FIV e FeLV para saber mais:
O que é FIV e como ocorre a transmissão?
O FIV, do inglês Feline immunodeficiency virus, é um retrovirus do gênero Lentivirus e tem como principal meio de transmissão a saliva. Para que ocorra a infecção a saliva precisa ser inoculada em um gato saudável. Essa inoculação costuma ocorrer por meio de feridas causadas por mordidas, por tal motivo que gatos de rua e machos adultos são mais propensos a desenvolver FIV.
Vale ressaltar também que mesmo o vírus do FIV sendo da mesma família do vírus causador da Imunodeficiência Humana (HIV) a FIV não é transmitida sexualmente entre os felinos.
O que FeLV é como ocorre a transmissão?
A FeLV, do inglês Feline leukemia virus infection, é causada por um retrovirus do gênero Gammaretrovirus e é transmitido principalmente pelo contato direto entre os felinos. A transmissão pode ocorrer das mães para os filhotes ou entre gatos que dividem o mesmo ambiente.
Normalmente são os filhotes que apresentam o maior risco de se tornarem infectados, no entanto segundo alguns estudos a infecção se mostra mais prevalente em gatos adultos. Felinos infectados eliminam o vírus em fluidos corporais, incluindo saliva, leite, urina e fezes, podendo desta forma infectar outros gatos saudáveis.
Quais os sintomas de FIV e FeLV?
FIV
Os sintomas da FIV podem variar dependendo do estágio da infecção e de animal para animal, mas em geral incluem:
- Perda de peso progressiva.
- Infecções secundárias frequentes (respiratórias, orais, cutâneas etc.).
- Febre intermitente.
- Gengivite ou estomatite crônicas.
- Linfadenopatia
- Letargia e fraqueza.
Em ambientes experimentais, a infecção por FIV apresenta mais comumente sintomas como febre, linfadenopatia e linfopenia. No entanto, esses sintomas não costumam ser observados em gatos naturalmente infectados, isso provavelmente acontece porque não ocorrem manifestações clínicas exuberantes e podem passar despercebidos pelos tutores.
Nas semanas que seguem a infecção, há um declínio notável nos linfócitos T CD4+ e CD8+. Essa redução impacta significativamente o sistema imunológico, levando a um estado clínico imunológico alterado. Após essa queda inicial, há uma resposta imunológica caracterizada por: produção de anticorpos contra o FIV, redução subsequente no vírus circulante, aumento de linfócitos T CD8+ para níveis mais altos do que antes da infecção, indicando uma resposta imune adaptativa.
Após a fase aguda, os gatos entram em um longo estágio assintomático que pode durar muitos anos. Durante esse período, pode haver disfunção progressiva do sistema imunológico, fazendo com que gatos com FIV corram um risco maior de infecções crônicas e recorrentes devido ao comprometimento do sistema imunológico. As neoplasias são cerca de cinco vezes mais comuns em gatos infectados do que em gatos não infectados.
FeLV
Os sintomas da FeLV assim como o FIV dependem do estágio de infecção e do histórico do gato, entre os sintomas mais recorrentes estão:
- Anemia, que pode causar palidez e fraqueza.
- Problemas respiratórios.
- Diarreia crônica ou perda de apetite.
- Tumores ou linfomas.
- Infecções persistentes e recorrentes devido à imunossupressão.
- Alterações comportamentais e letargia.
A transmissão do vírus ocorre mais comumente pela via oronasal, embora feridas por mordidas também possam espalhar a infecção. Após a exposição oronasal, o vírus da FeLV se localiza nos tecidos linfoides locais antes de multiplicar e se espalhar pelo organismo, resultando em viremia primária. Durante esta primeira fase, o vírus pode chegar a infectar a medula óssea. Caso isso aconteça terá início a viremia secundária, onde leucócitos e plaquetas infectadas são encontrados na corrente sanguínea.
Os quadros resultantes da infecção pela FeLV podem ser divididos em três categorias:
Infecção abortiva: Anteriormente chamado de “gatos regressores”. Esses gatos expostos a FeLV eliminam o vírus com sucesso antes que ele estabeleça uma infecção persistente. Esses gatos não mostram sinais de viremia, com testes de PCR e antígeno negativos, sua detecção é feita apenas pelos anticorpos neutralizantes. A infecção abortiva parece ser o resultado mais comum em condições típicas, pois grandes estudos de campo relatam que 4% a 11% dos gatos de estimação se enquadram nessa categoria.
Infecção Regressiva: Antigamente era descrita como “infecção latente com ou sem uma fase de viremia transitória”. Nesse caso o sistema imunológico do felino é capaz de controlar, mas não de eliminar completamente a replicação viral. Gatos infectados regressivamente inicialmente mostram DNA viral no sangue, mas com o tempo, sua carga viral diminui para níveis indetectáveis a ponto de poderem viver sem exibir qualquer sinal da doença.
Contudo mesmo não exibindo sinais da doença podem transmitir a infecção para outros gatos, principalmente pela transfusão de sangue o que pode ocasionar uma viremia potencial e aparecimento de doenças secundárias associadas à FeLV nos gatos receptores. Os gatos com esse tipo de infecção mantêm altos níveis de anticorpos neutralizantes do vírus e apresentam baixo risco de doenças associadas à FeLV. Estudos sugerem que 1% a 2% dos gatos mostram esse padrão de infecção.
Infecção Progressiva: Anteriormente conhecida como “viremia persistente”, isso ocorre quando o sistema imunológico falha em conter o vírus durante os estágios iniciais, permitindo uma extensa replicação viral. A infecção se espalha primeiro nos tecidos linfoides locais, depois para a medula óssea e, mais tarde, para os tecidos epiteliais mucosos e glandulares. Esses gatos eliminam o vírus continuamente, principalmente pela saliva, mas também por outras secreções, e correm alto risco de desenvolver doenças relacionadas à FeLV. Entre 0,5% e 2% dos gatos em estudos recentes foram classificados como portadores de infecções progressivas.
Referências
- AAFP, Feline Retrovirus Testing and Management Guidelines. 2020; doi: 10.1177/1098612X19895940
- Biezus, Giovana. Infecção pelo vírus da leucemia (FeLV) e imunodeficiência em gatos do planalto de Santa Catarina: Prevalências, fatores associados, alterações clínicas e hematológicas. Santa Catarina, 2017.
- J. Bezerra, C. Landim, Y. Ribeiro, M. Tertulino, R. Junior, A. Maranhão, A. Brasil, J. Antunes, S. Azevedo. Epidemiological and clinicopathological findings of feline immunodeficiency virus and feline leukemia virus infections in domestic cats from the Brazilian semiarid region. Preventive Veterinary Medicine 2024