Experimentos indicam que os felinos domésticos costumam ter grande consciência sobre seu próprio corpo, e podem se apertar para "fluir" por fendas estreitas – assim como um líquido faria
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Quem convive com gatos sabe que esses animais são contorcionistas de primeira linha. Quando felinos estão interessados em explorar novos espaços – ou só tirar uma soneca dentro de algum recipiente aleatório –, frestas, pequenos buracos e até mesmo portas fechadas não representam desafios.
Foi pensando nisso que uma equipe de cientistas da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, decidiu testar dezenas de gatos para verificar quão conscientes eles são sobre seus próprios tamanhos e dimensões. A ideia era entender se eles agem como sólidos convictos, e sabem que não vão caber em certos espaços, ou se tentam adaptar seus corpos ao espaço que têm.
A pesquisa descobriu que gatos podem se esgueirar por obstáculos estreitos sem receio algum, como um líquido faria. Mas podem hesitar quando a altura parece desconfortável. Ou seja: gatos podem agir como líquidos, em certas situações. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na revista iScience.
Para analisar os comportamentos dos gatos, Péter Pongrácz, líder do projeto, precisou pensar fora da caixa e literalmente sair do seu laboratório. Isso porque os felinos tendem a ser mais temperamentais – especialmente em ambientes estranhos.
Assim, ele e sua equipe construíram um laboratório portátil de testes cuja estrutura poderia ser montada nas residências desses animais. Com o aparato em mãos, o pesquisador visitou as casas de 29 tutores de gatos em Budapeste. Você pode ver a tal estrutura no esquema abaixo.
Foram posicionados nos batentes de portas dois grandes painéis de papelão: um com cinco buracos da mesma altura, mas com largura que ia diminuindo, e outro com cinco vãos da mesma largura, só que com altura cada vez maior. O material bloqueava completamente a passagem entre os cômodos da casa, forçando a passagem do felino pelos furos.
Para aos experimentos, o tutor do gato ficou de um lado do painel enquanto o bichano e o especialista ficaram do outro. Para cada teste, o gato teve que sair do lado do cientista e atravessar para o lado do dono, através dos furos no papelão. Todo o movimento foi filmado pelos pesquisadores.
Fazer os gatos seguirem as instruções foi uma tarefa difícil: dos 38 animais que começaram o experimento, 30 terminaram. Os restantes simplesmente perderam o interesse na tarefa e precisaram ser desclassificados.
Os dados do estudo mostraram que a altura pode ser um empecilho: quando confrontados com buracos de alturas variadas, 22 gatos hesitaram em atravessar pela passagem menor. Já quando os buracos variaram em largura, ficando cada vez mais estreitos, apenas oito deles pararam. Moral da História? A maioria se comportou como líquido quando precisava colocar o corpo em uma passagem apertada. Mas isso só funcionou em uma das dimensões (largura) e não nas duas situações analisadas (largura e altura).
“Não houve nenhuma desaceleração enquanto eles avançavam [pelas passagens com largura estreita]”, disse Pongrácz, em entrevista à Science. “Eles não usam a consciência corporal neste caso – são basicamente como líquidos.” A equipe chama essa estratégia de tentativa e erro: independentemente de caberem ou não, eles tentaram fluir.
Por mais engraçada que a ideia de gatos “fluírem” pelo espaço possa parecer, ela não é restrita à nova pesquisa. Um artigo de física teórica publicado em 2017 no Rheology Bulletin defende que os gatos podem ser considerados líquidos.
Marc-Antoine Fardin, da Universidade de Lyon, na França, que assina o artigo, levantou a hipótese de que a capacidade de passar por buracos pequenos e conformar seus corpos em diferentes formatos torna os gatos objetos que podem existir em estado líquido. Isso seria justificado pela própria definição de líquido: aquilo capaz de assumir a forma de seu recipiente, mantendo o mesmo volume. É uma discussão interessante, que não entraremos mais à fundo aqui, mas que você pode ler neste texto do pesquisador para o site The Conversation.
A questão rendeu a Fardin até um Ig Nobel de Física em 2017 — uma versão do tradicional Nobel, focado em pesquisas que “primeiro fazem rir e depois, pensar”, como diz seu slogan. Diz aí, leitor: a ideia de que gatos podem ser fluidos de vez em quando já não parece tão absurda como no primeiro momento, né?
Fonte: Revista Galileu, adaptado pela Equipe Cães e Gatos.
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