Conferência multidisciplinar discute novos desafios da Saúde Única na Bahia
Nos dias 17 e 18 de outubro, profissionais da área da Saúde da Bahia ampliaram as discussões sobre as mudanças climáticas e as zoonoses na III Conferência de Saúde Única da Bahia, realizada no auditór
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Nos dias 17 e 18 de outubro, profissionais da área da Saúde da Bahia ampliaram as discussões sobre as mudanças climáticas e as zoonoses na III Conferência de Saúde Única da Bahia, realizada no auditório da Unifacs. Pesquisadores e profissionais de ‘linha de frente’ alertaram para a necessidade de uma linguagem comum a todos os setores de saúde e de resposta imediata das autoridades nas grandes emergências sanitárias, além da importância da ampla divulgação para a população. Promovido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/BA), o evento teve o apoio da Adab e da Unifacs.
A programação multidisciplinar abrangeu temas de impacto para a população, como desastres ambientais, Saúde Única, arboviroses, esporotricose, resíduos contaminantes, raiva, manejo de fauna silvestre, influenza aviária, e as doenças negligenciadas, como tuberculose, toxoplasmose, leishmaniose, chagas e mormo, que são consideradas “negligenciadas” por estarem quase ausentes da agenda global de saúde, receberem pouco financiamento e serem associadas à exclusão social. Para enfrentar as ameaças de um mundo em transformação climática, com aumento de epidemias, e reflexos nas questões humanitárias, como a segurança alimentar, os pesquisadores e profissionais abordaram as descobertas mais recentes em pesquisas publicadas nas principais revistas científicas.
Palestras interdisciplinares
Médico-veterinário do Exército Brasileiro, José Roberto Pinho de Andrade Lima, tratou das principais descobertas sobre desastres ambientais em relação à Saúde Única. “Nós estamos agora no Brasil começando a formar o Comitê que envolve vários ministérios, e uma série de integrações entre saúde humana, animal, meio ambiente, mas ainda com resposta muito fragmentada. Um dos maiores problemas é falta de comunicação e falta de conhecimento sobre a linguagem utilizada entre os setores para dar as respostas a desastres e grandes emergências sanitárias”, afirmou.
Farmacêutico e pesquisador da UFBA, Gúbio Soares Campos, descobridor do Zika vírus no Brasil e Oropouche na Bahia, abordou as principais atualizações sobre a febre Oropouche e diversas arboviroses, doenças virais transmitidas por artrópodes que se alimentam de sangue, encontradas no estado, ressaltando a importância dos laboratórios e dos profissionais qualificados para analisar os vírus. “A gente precisa entender que a ciência é para melhorar a qualidade de vida”, afirmou. A bióloga Sandra Maria da Purificação, da DIVEP/SESAB, atualizou o público sobre o cenário epidemiológico das arboviroses. “No momento atual, em que vivenciamos tantas mudanças climáticas, falarmos de meio ambiente, de animais e da saúde humana retrata toda a necessidade de envolvermos atores importantes nesse contexto”, afirmou.
A médica-veterinária Nádia Rossi de Almeida, da EMEVZ/UFBA, discorreu sobre o diagnóstico e o tratamento da esporotricose em animais, doença fúngica que atinge gatos e humanos. Já as palestras da médica-veterinária Carolina de Castro Araújo Feijó, do EpiSUS/Ministério da Saúde, e do médico-veterinário Marcelo Medrado Borges, da DIVEP/SESAB, atualizaram o público presente sobre o cenário epidemiológico da esporotricose no estado da Bahia. Em seguida, a palestra da médica Anne Layze Galastri, da Sociedade Baiana de Pediatria, abrangeu o diagnóstico e o tratamento humano da esporotricose.
Zootecnista Wilkson Oliveira Rezende, do Ministério da Agricultura e Pecuária, abordou a questão dos resíduos químicos em produtos de origem animal, os impactos e o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes – PNCRC. Presidente da comissão organizadora da conferência, o médico-veterinário José Eduardo Ungar de Sá, do LACEN/SESAB, trouxe as principais informações sobre novas variantes da raiva e novas perspectivas para a saúde. “Essa mudança ambiental que estamos atravessando está influenciando diretamente a raiva. Depois que a biologia molecular entrou no diagnóstico de raiva, o sequenciamento genômico entrou, a gente começou a fazer estudos genômicos do vírus, a gente viu que ele tinha se modificado e se adaptado de uma maneira tal que nós temos hoje grandes preocupações”, salientou.
Médico-veterinário Alberto Vinícius Dantas Oliveira, do INEMA/SEMA, abordou o manejo de animais silvestres em áreas urbanas. “A Bahia é um dos poucos estados que têm uma lista de espécies ameaçadas de extinção e uma lista de espécies exóticas invasoras, o que denota a maturidade que o estado tem em relação à fauna silvestre”, destacou.
A médica-veterinária Luciana Bahiense, da DIVEP/SESAB, atualizou o público sobre o cenário atual da Influenza Aviária no contexto da saúde pública. Já o médico-veterinário José Klinger Cruz Filho, da ADAB/SEAGRI, abordou o cenário atual da Influenza Aviária no contexto da defesa agropecuária.
Fazendo uma linha do tempo da enfermidade, o médico-veterinário Joselito Nunes Costa, da UFRB, falou sobre os aspectos clínicos e epidemiológicos da tuberculose. Já a médica infectologista Ana Paula G.A. Villa Nova, falou sobre os aspectos clínicos e epidemiológicos da toxoplasmose. A médica-veterinária Melissa Moura C. Abbehusen, da Unime, abordou os desafios da leishmaniose canina para a Medicina Veterinária.
Na sequência, a dentista Cristiane Medeiros M. de Carvalho falou sobre a doença de chagas no estado da Bahia. Encerrando as palestras, o médico-veterinário José Carlos de Oliveira Filho, da UFRB, falou sobre os aspectos clínicos e epidemiológicos do mormo, doença infectocontagiosa que atinge principalmente equídeos, podendo também acometer humanos.
Documento de recomendações
Eduardo Ungar comentou sobre os resultados da III Conferência, dentre eles, o documento final. “Realizamos uma reunião e retiramos ideias e sugestões para que seja elaborado um documento final, e encaminhado às autoridades de saúde, às autoridades municipais, aos conselhos regionais que nos apoiaram e que futuramente nos apoiem e também ideias para ampliarmos a comunicação da Saúde Única na imprensa, divulgarmos mais a necessidade da população conhecer o que é a saúde única e o impacto disso em suas vidas, as mudanças climáticas e as zoonoses, temas que muita gente não tem a menor noção, e que precisa saber, porque as mudanças estão ocorrendo de uma forma muito rápida e cabe a cada um cuidar de si e do nosso planeta”, afirmou.
A médica-veterinária Maria Tereza Mascarenhas, membro da Comissão Estadual de Saúde Única e secretária-geral do CRMV/BA, considerou o evento um sucesso e se sentiu realizada enquanto profissional da saúde com as discussões ocorridas durante os dois dias. “Sairá daqui um documento de recomendações para que façamos uma saúde melhor”, destacou.
Uma só saúde
“Uma Só Saúde”, também conhecida como “Saúde Única”, é a tradução do termo em inglês “One Health”, uma abordagem integrada que reconhece a conexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. De acordo com o Ministério da Saúde, essa abordagem propõe e incentiva a comunicação, cooperação, coordenação e colaboração entre diferentes disciplinas, profissionais, instituições e setores para fornecer soluções de maneira mais abrangente e efetiva.
A implementação dessa abordagem favorece a cooperação, desde o nível local até o nível global, para enfrentar desafios emergentes e reemergentes, como pandemias, resistência antimicrobiana, mudanças climáticas e outras ameaças à saúde.
Fonte: CRMV-BA, adaptado pela Equipe Cães e Gatos.
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