A primeira questão que surge ao tutor quando o diagnóstico é cancro é, normalmente, “Dr. quanto tempo vai viver o meu animal?”. Trata-se de uma preocupação justa e fundamentada, uma vez que um diagnós
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A primeira questão que surge ao tutor quando o diagnóstico é cancro é, normalmente, “Dr. quanto tempo vai viver o meu animal?”.
Trata-se de uma preocupação justa e fundamentada, uma vez que um diagnóstico de cancro, pode ser fatal. Ressalvo o “pode ser fatal” porque nem sempre o é. Há tumores malignos que se curam ou cuja esperança de vida, com a terapêutica adequada, ultrapassa aquilo que é a sobrevivência esperada para o animal.
Outra, questão muito frequente é: “O meu animal vai sofrer muito? Não quero que o meu animal sofra. Já vi muita gente a fazer quimioterapia e é horrível!”.
Estes são dois exemplos, das muitas questões dos tutores com que qualquer um de nós, enquanto médicos veterinários, já se deparou ao longo da sua carreira, quando o diagnóstico é cancro.
Está demonstrado que a comunicação eficaz é um pilar fundamental nos cuidados médico-veterinários, especialmente no campo da oncologia, onde as emoções estão à flor da pele e as decisões de tratamento podem ser emocionalmente e financeiramente complexas.
Neste sentido, dominar as habilidades de comunicação torna-se vital para proporcionar um cuidado adequando aos doentes oncológicos e esclarecer eficazmente os clientes.
Este artigo explora os fundamentos da comunicação veterinária, oferecendo insights sobre os pontos positivos e negativos da comunicação eficaz, a importância de um diálogo compassivo e o reconhecimento de quando é o momento de encaminhar para um oncologista veterinário.
Diagnóstico, terapêutica e prognóstico em oncologia
A oncologia veterinária, tem-se tornado cada vez mais complexa, exigindo uma actualização científica constante.
Os meios de diagnóstico tornaram-se mais detalhados, muitas vezes exigindo a realização adicional de testes moleculares ou imunohistoquimicos.
Dedique o tempo necessário para explicar o diagnóstico, as opções de tratamento e os possíveis resultados. Pressionar nas conversas pode sobrecarregar o cliente e dificultar a compreensão da informação a transmitir.
No âmbito da terapêutica, a quimioterapia convencional de alta dose não é a única opção médica disponível. Existem várias modalidades farmacológicas (imunoterapia, inibidores de recetores de tirosina quinases, inibidores moleculares, etc.), sejam únicas ou combinadas, que demonstraram melhorar a eficácia terapêutica e a esperança de vida do animal.
Um conhecimento profundo do modo de acção, farmacologia e toxicologia destas moléculas é fundamental para o seu uso adequado e prever, evitar ou tratar os efeitos secundários indesejáveis.
A cirurgia também tem evoluído consideravelmente, tendo-se desenvolvido toda uma disciplina designada de cirurgia oncológica para fazer face às particularidades da remoção eficaz das neoplasias.
No que diz respeito ao prognóstico , este é um assunto de máxima importância e extremamente complexo. Existem muitas variáveis a analisar que passam desde a evidência científica, o tipo e estádio do tumor, a terapêutica a aplicar, entre outros. Uma incorrecta informação condiciona a decisão do tutor na escolha de tratamento, tendo como consequência um sucesso terapêutico ou, lamentalvemente, a morte prematura do animal.
Como podemos otimizar estes momentos de comunicação e partilha?
Os médicos veterinários devem priorizar a escuta ativa e uma conversa fluida para obter informações abrangentes sobre o doente e ir ao encontro das preocupações do tutor. Utilizar linguagem compreensível e evitar o jargão médico ajuda a construir confiança e garante que os clientes compreendem o diagnóstico, as opções de tratamento e o prognóstico. Os veterinários também devem fornecer materiais escritos ou auxílios visuais para reforçar a comunicação verbal e permitir que os tutores tomem decisões informadas.
São vários os estudos que comprovam que uma comunicação clara, com explicações detalhadas e oportunidades para os tutores fazerem perguntas, está associada a uma maior probabilidade de adesão ao plano diagnóstico e terapêutico.
O Que Fazer e o Que Evitar
Demonstrar Empatia:
Mostre empatia tanto para com o animal de estimação quanto para com o tutor. Reconheça as suas emoções e preocupações e valide os seus sentimentos. A empatia promove confiança e uma relação mais forte entre cliente e profissional. Não julgue e, sobretudo, não exponha a sua opinião pessoal. Os clientes precisam que sejamos empáticos, compassivos e, sobretudo, objectivos. A nossa opinião pessoal pode virar-se contra nós! Ajude o cliente a tomar uma decisão, não a tome por ele!
Evitar Pressa:
Dedique o tempo necessário para explicar o diagnóstico, as opções de tratamento e os possíveis resultados. Pressionar nas conversas pode sobrecarregar o cliente e dificultar a compreensão da informação a transmitir.
Infelizmente, na nossa profissão, o tempo parece sempre curto. Eu costumo reservar uma hora de consulta para ter tempo suficiente; relativamente aos telefonemas, realizo-os no final do dia, após as consultas, para não estar apressado.
Se não se sente confortável ou familiarizado com o diagnóstico, referencie. Desta forma, aliviará a pressão sobre si e o cliente terá a oportunidade de falar com um veterinário experiente no assunto, com tempo para essa consulta detalhada e que irá colaborar consigo no acompanhamento do animal oncológico.
Referências: disponíveis sob pedido
*Médico veterinário, [email protected]
** Artigo escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico por decisão do autor
***Leia o artigo de opinião na íntegra na edição 174, de setembro, da VETERINÁRIA ATUAL