Por Digivets

Setembro 26, 2025

Entrevista com Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio no 50° Congresso da WSAVA
O Digivets teve a honra de entrevistar a Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio durante o 50° Congresso da WSAVA realizado no Rio de Janeiro entre 25 e 27 de setembro, após sua palestra realizada no stand da Zoetis, sobre atualizações nos protocolos vacinais para Leucemia Viral Felina.

A Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio, carinhosamente conhecida como Malê, é uma médica-veterinária referência nacional no cuidado e bem-estar de felinos. Com sólida formação acadêmica e trajetória construída em torno da clínica exclusiva de gatos, Malê consolidou-se como uma especialista que alia conhecimento técnico atualizado, prática clínica refinada e um olhar sensível às particularidades da espécie. Sua atuação é marcada pela busca constante por aprimoramento, participando de congressos, cursos e publicações voltadas à medicina felina, área que demanda cuidados diferenciados e protocolos específicos.

Além da prática clínica, a Dra. Malê se destaca como educadora e comunicadora, promovendo cursos, palestras e conteúdos que ampliam o conhecimento de tutores e profissionais sobre a saúde e o manejo dos felinos. Sua presença nas redes sociais fortalece ainda mais esse papel, aproximando a informação científica de um público amplo e engajado. Reconhecida pelo compromisso em difundir a medicina felina de excelência, ela se tornou uma voz de autoridade no setor veterinário, contribuindo diretamente para a valorização e evolução do cuidado com os gatos no Brasil.

O Digivets teve a honra de entrevista-la durante o 50° Congresso da WSAVA realizado no Rio de Janeiro entre 25 e 27 de setembro, após sua palestra realizada no stand da Zoetis, sobre atualizações nos protocolos vacinais para Leucemia Viral Felina.

Digivets: Dra. Malê, você poderia resumir para nossos leitores quais foram as princiapsi atualizações nos protocolos vacinais para Leucemia Viral Felina, expostas em sua palestra?

Dra. Malê: Atualmente, por causa da alta prevalência de FeLV no mundo inteiro, as diretrizes foram revistas, e elas agora são mandatórias pra que a gente vacine todos os filhotes. Todos os gatos devem ser vacinados se forem negativos. MUITO importante lembrar que só devemos vacinar os negativos, né? Porque os positivos a gente não vai ter benefícios em vacinar.

Digivets: Como ficou então o protocolo?

Dra. Malê: Então, seria testar esses filhotes quando eles vão chegar perto da 6 ou 8 semanas de idade, que é quando a imunidade colostral, a imunidade do anticorpos, o título dos anticorpos maternos contra o vírus da FeLV sofre uma redução, e deixa de proteger os animais. Nesse momento realizamos a testagem, verificamos se eles são positivos ou negativos, e somente os negativos entram no protocolo com a primo vacinação. Então eles tomam duas doses na infância, a partir das 6 ou 8 semanas de idade, com uma repetição depois de 3 a 4 semanas, e aí a gente fecha esse protocolo, primo vacinal, quando eles fazem um ano de aniversário dessa segunda dose.

Depois, vamos fazer as revacinações de acordo com a vida desse indivíduo, se ele apresenta fatores de risco, em maior ou menor grau, ele vai tomar a intervalos de 1 ano, a intervalos de 2 anos, ou ele não toma mais. Então quem tem alto risco toma todo ano, quem tem médio risco toma cada 2 anos, quem não tem mais risco de ter acesso ao vírus para de ser vacinado contra a FeLV a partir de então.

Digivets: Outro ponto bastante interessante da sua palestra foi a questão da vacinação de animais imunocomprometidos. E eu achei superinteressante, porque eu realmente tinha para mim que imuno suprimido não vacinava, quer dizer que hoje se recomenda a vacinação de animal imuno suprimido?

Dra. Malê: Se recomenda, porque na verdade a gente entende muito mal o que é essa palavra imuno suprimido ou imunocomprometido. A gente acha que o sistema imune dele não vai funcionar em nada, na verdade ele tem supressão da funcionalidade normal do sistema imune, de alguma forma ele não funciona bem, mas ele pode estar desregulado para mais, ele pode estar desregulado para menos, mas não significa que o indivíduo não tem imunidade. E vale lembrar que a imunidade tem vários pontos, você tem imunidade celular, você tem imunidade moral, então também são imunidades diferentes que sofrem o impacto.

Antigamente se achava que eles não deveriam mais ser vacinados, pois havia um receio de que se eles tomassem vacinas vivas, eles pudessem ter reversão vacinal da virulência e pudessem ter um desencadeamento da doença. Hoje não se acredita mais nisso. Também havia a crença de que a vacina morta não era suficiente para imunizar estes animais. Hoje a indicação é de que se vacine esses pacientes, mantendo um protocolo como o que a gente faria para um indivíduo não infectado.

O único cuidado a ser tomado nesse momento é que sejam adotados intervalos não tão grandes entre as vacinas. Esses indivíduos, quando já adultos, talvez não possam fazer a vacina em intervalos tão grandes. Talvez eles tenham que manter uma vacinação anual para que fiquem protegidos por conta do efeito imunossupressor de sua condição – seja uma infecção viral ou seja uma terapia imunossupressora.

Digivets: Outro ponto que achei bastante interessante foi quando você abordou a questão da ‘preservação da reputação das vacinas’. Realmente se a gente vacinar animais sem testagem prévia, sem saber se é positivo ou não, não podemos nos garantir contra uma reclamação futura quanto à eficácia dessa vacina. Achei muito legal dar esse alerta para a classe, como uma questão de consciência que temos que ter frente aos pacientes e responsáveis.

Dra. Malê: Eu acho que essa é uma questão de consciência de classe mesmo! Porque veja bem: a vacina está sendo administrada para a gente evitar que esse vírus dentro do organismo consiga fazer diferentes graus de infecção, e os diferentes graus de infecção que a FeLV faz no gato, se transforma em doença em algum momento.

A diferença que a gente tem entre os diferentes tipos de infecção é que tem gatos que não vão se transformar em fonte de infecção, eles não eliminam o vírus favorecendo a infecção de novos gatos, mas gatos que têm a tal da infecção regressiva adoecem e tem doenças tão graves quanto a indivíduo que têm a infecção progressiva. Eles podem ter anemia hemolítica autoimune, eles podem desenvolver leucemia, linfomas.

Então a gente vacinar um indivíduo que já tem o vírus não traz para ele benefício nenhum. E o problema é explicar isso para quem vai receber a vacina, para quem está comprando a vacina, que é o responsável pelo animal. Na hora que você fala, ele vai fazer que sim com a cabeça e ele vai concordar com você. Só que lá na frente, a hora que ele olha esse indivíduo positivando e ficando doente, ele vai ver que esse animal tinha vários selinhos na sua carteirinha da vacina no passado, e que essas vacinações todas não foram capazes de impedir a infecção.

Qual a propaganda que vamos estar passando para a sociedade? Que a vacina não presta, porque o cara é vacinado, e ele mesmo assim fica doente! E aí eu acho que a gente presta um desserviço enorme, é uma ação epidemiologicamente muito equivocada. Então, eu não protejo o indivíduo vacinando o cara que é positivo. Por isso, o ideal seria a gente realmente testar, e testar tanto para ver se ele tem um vírus circulante, ou se ele é um paciente regressor, ou um indivíduo que não tem um vírus circulante, mas que pode ter um DNA do vírus encontrado no organismo dele. Por isso, a regra é clara: testar sempre. Vacinar somente os negativos.

O Digivets teve a honra de entrevistar a Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio durante o 50° Congresso da WSAVA realizado no Rio de Janeiro entre 25 e 27 de setembro, após sua palestra realizada no stand da Zoetis, sobre atualizações nos protocolos vacinais para Leucemia Viral Felina.
O Digivets teve a honra de entrevistar a Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio durante o 50° Congresso da WSAVA realizado no Rio de Janeiro entre 25 e 27 de setembro, após sua palestra realizada no stand da Zoetis, sobre atualizações nos protocolos vacinais para Leucemia Viral Felina.
Imagem: Assessoria Dra. Maria Alessandra Martins del Barrio

Para saber mais sobre os serviços da Drª Acesse: Pós-Graduação em Medicina Felina: um diferencial para o veterinário moderno

Sobre o 50º WSAVA Congress – 2025 

  • 50º WSAVA Congress – 2025 
  • Data: 25 a 27 de setembro de 2025
  • Local: Riocentro
  • Endereço: Avenida Salvador Allende, 6555 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
  • Horário: das 10h00 às 18h30
  • Ingressos: 50° WSAVA Congress

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